Carlos José Moreno, de 17 anos, Paola Ramírez, 23 anos, e o
segundo-sargento Neomar San Clemente Barrios são as três novas vítimas da tensão política na Venezuela.
Os três foram assassinados na quarta-feira 19, data em que a oposição ao
governo de Nicolás Maduro convocou "a mãe de todas as manifestações"
contra o chavismo, atos que foram duramente reprimidos pelas forças de
segurança. Com as mortes, chega a oito o número de assassinatos políticos na
Venezuela nas últimas três semanas, período no qual a oposição intensificou os
pedidos de eleições gerais e a saída de Maduro do poder, em meio à grave crise econômica e política que
assola a Venezuela.
Os atos de quarta-feira provocou episódios de violência em todo o país e
novas manifestações estão programadas para esta
quinta-feira. "Amanhã, na mesma hora, convocamos todo o povo
venezuelano a se mobilizar (...). Hoje fomos milhões e amanhã temos que reunir
mais pessoas", declarou o líder opositor Henrique Capriles,
em entrevista coletiva da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD).
"Contra a selvageria e a repressão, mais democracia (...). Quem tem razão
e está ao lado da verdade não deve ter medo. Medo deve ter Maduro", disse
Capriles. "Estamos pedindo eleições livres e democráticas, estamos
pedindo respeito à Assembleia Nacional, estamos pedindo a libertação dos presos
políticos e estamos pedindo um canal humanitário (para a entrada
na Venezuela de alimentos e remédios). Esta é a razão da luta".
O governo Maduro, por sua vez, declarou mais uma vez ser vítima de uma
tentativa de golpe de Estado "convocado desde Washington e secundado por
este senhor Julio Borges". Borges é o presidente da Assembleia Nacional, que
trava uma intensa disputa com o Supremo Tribunal da
Venezuela, favorável ao chavismo.
Tiros na cabeça
Durante os protestos de quarta-feira, Carlos José Moreno morreu no hospital
após ser baleado por motociclistas encapuzados que atacaram uma concentração
opositora no bairro de San Bernardino, em Caracas. Na cidade de San
Cristóbal, oeste do país, Paola Ramírez foi baleada na cabeça, também por
motociclistas encapuzados, e morreu durante os protestos.
No início da noite, Neomar San Clemente Barrios, membro da
Guarda Nacional, morreu em San Antonio de los Altos, subúrbio de Caracas,
baleado por um franco-atirador.
Os focos de violência e 'panelaços' persistiam em vários bairros de Caracas
e em outras cidades da Venezuela durante a noite. No bairro de
El Paraíso, oeste de Caracas, moradores denunciaram saques em padarias,
supermercados e cantinas. Manifestantes também levantaram barricadas e
queimaram pneus em San Cristóbal.
Em Caracas, os enfrentamentos entre as forças de segurança e os
manifestantes que respondiam com pedras e coquetéis molotov explodiram em uma
autoestrada estratégica e em vários setores do oeste da cidade. Quando se
aproximava, com as mãos para cima, da barreira com que militares bloqueavam a
passagem na autoestrada Francisco Fajardo, Capriles recebeu uma chuva de bombas
de gás lacrimogêneo. Vários manifestantes fugiram, jogando-se nas águas
poluídas do rio Guaire.
As mortes ensejaram um jogo de empurra entre os políticos venezuelanos a
respeito da responsabilidade da tragédia. "Não há qualquer justificativa
para que se derrame uma gota de sangue neste país, quando os venezuelanos
querem um futuro distinto", disse Capriles, ao condenar as mortes.
Já o dirigente chavista Diosdado Cabello acusou
o líder opositor pela morte do guarda nacional: "Capriles e seu combo de
assassinos estavam buscando mortos, desesperados. Mas aqui haverá justiça,
tenham certeza de que vai haver justiça".
O vice-presidente venezuelano, Tareck El Aissami, responsabilizou o
opositor Julio Borges pela morte do jovem em Caracas. "O responsável
é Julio Borges, que transmitiu e tem sido recorrente em sua mensagem de
violência, de ódio e de intolerância. Deve ser responsabilizado por estes
fatos, por incentivar um setor de venezuelanos e venezuelanas a enfrentar um
outro setor de compatriotas".
Maduro acirra os ânimos
Durante um comício no centro de Caracas, Maduro assegurou que deseja
disputar eleições em breve para vencer o que chamou de "batalha"
contra seu governo. "Temos que buscar (...) fórmulas para ganhar
definitivamente essa batalha em paz, eu quero ganhar essa batalha já. Eu quero
que nos preparemos para ter uma batalha eleitoral pronta e total", disse o
presidente.
Maduro também
anunciou a captura de 30 pessoas com supostos planos para deflagrar atos de
violência durante a marcha da oposição em Caracas, onde também se manifestam
milhares de seus partidários. Mais de 200 pessoas foram detidas em marchas
anteriores.
"Foram capturados mais de 30 encapuzados, violentos, terroristas,
identificados plenamente", disse Maduro, em meio a aplausos, em discurso a
seus seguidores na Avenida Bolívar, no centro da capital.
No que chamaram de "marcha de todas as marchas", a sexta
realizada este mês, opositores saíram de cerca de 20 pontos de concentração.
Assim como aconteceu nas manifestações anteriores, não conseguiram, porém,
chegar ao centro histórico de Caracas, reduto chavista, onde milhares de
seguidores de Maduro se manifestavam.
Também
ocorreram protestos da oposição nos estados de Zulia, Carabobo, Táchira, Mérida
e Anzoátegui, com distúrbios que deixaram vários feridos.
Maduro ativou a chamada "Operação Zamora", militar e policial,
para "derrotar o golpe de Estado", pelo qual responsabiliza "a
direita apátrida venezuelana" e os Estados Unidos. A medida foi
considerada pela oposição como uma medida intimidadora e de repressão.
Os Estados Unidos fizeram uma dura advertência ao governo venezuelano para desistir da repressão. Em Washington, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou que o governo de Maduro "viola" sua Constituição ao não permitir "que se escute a voz da oposição", algo que a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, considerou um "intervencionismo sistemático".
Mais cedo, o representante interino dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA), Kevin Sullivan, considerou como "infundadas e irracionais" as acusações de "apoio americano a um golpe na Venezuela, assim como o apoio a manifestações violentas".
Feitas durante sessão do Conselho Permanente da OEA, as declarações de Sullivan foram uma reação às acusações feitas pelo vice-chanceler venezuelano, Samuel Moncada, sobre a suposta participação dos Estados Unidos em um golpe na Venezuela.Moncada disse ainda que a OEA serviria de "sala de comando" para incitar a violência em Caracas e acusou o secretário-geral da organização, Luis Almagro, de convocar a "guerra civil".
Centenas de pessoas
protestaram contra o governo chavista nos últimos dias em várias cidades da
Europa e da América, como ocorreu nesta quarta-feira em Madri e em
Miami. Duas redes de TV internacionais denunciaram que foram tiradas do ar
por ordem do governo venezuelano. O canal colombiano El Tiempo e o
argentino Todo Noticias explicaram em seus sites que a autoridade de
telecomunicações (Conatel) ordenou sua retirada da grade do sistema de
televisão por assinatura DirecTV.
*Com informações da AFP
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